
“ele disse que daquele dia em diante me bateria todos os dias.”
Cristina (Nome Fictício)
Meu nome é Cristina e minha jornada de abusos começaram quando conheci meu ex-marido no Brasil aos dezesseis anos. O primeiro ano como esperado foi mil maravilhas, mas depois disso coisas começaram a acontecer dentro do nosso relacionamento, coisas que não eram comuns. Desse casamento eu tive uma filha maravilhosa que é a minha vida, vivi sempre a protegendo de tudo e de todos para que ela não sofresse. Meu ex marido me convencia de que tudo que ele fazia era por amor a mim, e eu apaixonada acreditava. Ele me traia, me batia, me xingava e sempre me pedia desculpas, e eu mais uma vez o aceitava de volta. Não passavam muitos dias e tudo começava outra vez, as ameaças de morte, as humilhações, os abusos sexuais, psicológicos e físicos. Mesmo com tudo isso acontecendo, eu não conseguia sair do relacionamento, ele me fazia acreditar que eu não era nada sem ele, que eu precisava dele e que eu não conseguiria nada. Bem… se passaram anos e já casados viemos para os Estados Unidos, achei que aqui tudo fosse melhorar, mas as coisas foram piorando de um jeito, que eu estava desesperada por ajuda.
Eu não podia falar com ninguém, tinha medo, vergonha e não acreditava que eu fosse capaz de viver se ele não estivesse ao meu lado. Eu já não tinha mais respeito por eu mesma, pois aceitava toda essa humilhação e as migalhas que ele me dava. Como disse anteriormente, as coisas só foram piorando, eu não tinha palavra na minha casa, tudo era ele quem decidia e fazia do jeito dele, gritava por tudo, brigava por qualquer motivo, e me humilhava. Eu também era estuprada, e o ouvia dizer que eu era obrigada a fazer sexo com ele ja que nós éramos casados. Quando eu me recusava a ter relações sexuais com ele, e dizia que isso não era certo, ele falava “vai na polícia, eu quero ver se eles vão ficar do seu lado” e eu me amedrontava nisso. Certo dia eu já não aguentava mais viver desse jeito e comecei a orar muito para que Deus fizesse um milagre em minha vida, pois eu não aguentava mais; ou ele me matava ou eu morreria de tristeza.
Eu sempre achei que Deus pudesse mudá-lo, mas entendi que Deus só muda quem quer ser mudado. Foram vinte e cinco anos de luta para salvar o meu casamento, mas ele não queria mudança. Eu já não gostava mais dele e estava vivendo por viver. Um dia estávamos em uma loja de construção quando ele me deu um tapa na cara, ele disse que daquele dia em diante ele me bateria todos os dias, eu falei que desse jeito eu não queria viver mais com ele, e ele disse “A porta da frente é serventia da casa, pode ir embora a hora que você quiser”. Deus me deu uma coragem que eu nunca pensei que pudesse ter. Coloquei algumas roupas em uma bolsa e fugi. Saí da minha casa me escondendo atrás dos carros do estacionamento, estava com muito medo pois já tinha tentado fugir uma vez e ele foi atrás de mim, me trouxe de volta, e jogou todas as minhas roupas na rua. Que vergonha que eu senti! e que humilhação diante dos meus vizinhos. Depois de tanto correr, consegui chegar na casa da minha pastora que foi quem me ajudou. Pedi socorro a ela, pedi ajuda e pedi moradia até conseguir me virar sozinha. Ela sem hesitar estendeu a mão pra mim, louvo a Deus pela vida dela e de seu marido que me deram o maior suporte.
Depois de dois meses morando na casa dessa pastora, consegui alugar um lugar para mim e minha filha. Ela morava com ele até o momento, e durante esse tempo ele vivia me pedindo para voltar. Eu trabalhava dia e noite, de segunda a sábado, só não trabalhava aos domingos porque ia a igreja. Era difícil me manter fiel mesmo com todas as coisas acontecendo, mas em todos os cultos da noite eu estava lá, cansada, mas fortalecida por Deus! e assim fui vencendo os desafios que vinham na minha vida. Não foi fácil, foram muitas lutas e muita misericórdia de Deus pela minha vida. Hoje, ainda tenho depressão devido aos traumas que vivi, mas Deus vem me curando a cada dia, através dos remédios e terapia. Não é vergonha falar que você toma remédio e faz terapia, porque Deus tem outras formas de nos ajudar também. Hoje sou casada com um homem maravilhoso que Deus me deu, que me ama, que cuida de mim, e que me respeita. Sou feliz como nunca fui feliz em minha vida. O conselho que dou a vocês é que nunca deixem um homem as desrespeitar e as humilhar, pois uma vez que eles começam, não param. Infelizmente vocês vão sofrer as consequências assim como sofri, não escutei meus pais, meus irmãos e sofri muito. Outra coisa que acho importante mencionar, pessoas da família dele vinham me falar que ele ia aceitar Jesus através da minha vida, isso não é e nem foi verdade, o único que pode salvar e libertar alguém é aquele que morreu na cruz por nos. Jesus Cristo!
A ele toda a honra ,Glória e louvor pra sempre, Amém!
Escrito por Aconteceu Comigo
Foi aí que a ficha caiu. Aquilo não era amor, nunca foi, Era abuso!
Depoente Anonima
Conheci o V num momento em que eu estava me sentindo frágil, insegura, tentando recomeçar. Ele era carismático, atencioso... pelo menos no início. Tudo parecia um filme romântico, daqueles que a gente cresce achando que vai viver. Me mandava mensagens o tempo todo, queria saber onde eu estava, com quem... e no começo, eu achei que era cuidado. Hoje eu sei que era controle. Aos poucos, ele foi isolando tudo que me fazia bem. Amigos? “Falsos”. Família? “Invasiva”. Meus hobbies? “Perda de tempo”. Me senti cada vez menor, como se eu estivesse sempre errada, como se ele estivesse sempre fazendo um favor por ainda estar comigo. Quando discutíamos, ele me fazia acreditar que eu era louca. Que eu distorcia tudo. Que era sensível demais. Eu me vi duvidando da minha própria memória, da minha lógica, das minhas emoções. Ele começou a me pedir fotos. No começo, eu hesitava, mas ele dizia: “é só pra mim, é porque eu te acho linda, é a nossa intimidade”. Quando eu finalmente cedi, me senti desconfortável... mas confiei. Achava que amor era isso: se entregar, mesmo com medo.
Depois que terminamos — ou melhor, depois que eu consegui fugir — veio a pior parte: ele começou a espalhar minhas fotos íntimas. Postou em fóruns, mandou pra conhecidos, até criou um perfil falso no meu nome. Eu fui ao chão. Literalmente. Não comia, não dormia. Sentia vergonha de sair na rua. Tinha medo de olhar o celular. Tinha medo de existir. Teve um dia, e isso é muito difícil de escrever, em que eu realmente pensei em acabar com tudo. Achei que seria mais fácil. Achei que ninguém sentiria minha falta. Achei que ele tinha vencido. Mas por algum motivo, naquela madrugada, resolvi ligar pra uma amiga. E foi ela quem me disse, com todas as letras: “isso que você viveu é violência.” Foi aí que a ficha caiu. Aquilo não era amor, nunca foi. Era abuso.
Comecei terapia. Demorei semanas pra conseguir olhar pra mim no espelho. Denunciei ele — e mesmo com todo o sistema sendo lento e cansativo, eu fiz questão de registrar cada print, cada ameaça, cada prova. Não foi fácil, mas valeu a pena. Hoje eu tô reconstruindo quem eu sou. Ainda tenho gatilhos, claro. Ainda me assusto com certos tons de voz, com olhares parecidos. Mas agora eu sei reconhecer os sinais. Agora eu sei que não fui a culpada. Eu fui vítima — e agora sou sobrevivente. Se você tá lendo isso e passando por algo parecido, eu quero te dizer: você não está sozinha. E mesmo que pareça impossível agora, existe vida depois disso. Existe paz. Existe liberdade. Existe amor — mas o verdadeiro, o que não te apaga, o que não te cala, o que não te fere. E principalmente: existe você, inteira de novo.